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terça-feira, 14 de junho de 2011

Teatro Realista : as personagens são comuns do cotidiano


Na segunda metade do século XIX, a Europa se vê sacudida de lés a lés por novos ventos políticos, científicos, sociais e religiosos: a Espanha proclama a república em 1868; a França a imita pouco depois; Vítor Manuel destrói os Estados Pontíficios em 1870; anos atrás desfazia-se a Santa Aliança, último reduto contra a expansão do Liberalismo. Lamark insistia na evolução dos seres por influência do meio; Darwin apregoava a mesma evolução pela seleção natural; Huxley aplicava as doutrinas transformistas ao próprio homem; Mendel descobria as leis da hereditariedade e começava-se desta maneira a gerar três visões filosóficas dos Cosmos, são elas: monista; materialista e animista, o termo ‘animismo’ foi criado pelo antropólogo inglês Sir Edward B. Tylor, em 1871, na sua obra Primitive Culture (A Cultura Primitiva). Pelo termo Animismo, ele designou a manifestação religiosa na qual se atribuiu que toda materia tem um ímpeto interior que adquire qualidade de consciencia.

A Revolução Francesa tinha conduzido ao apogeu a burguesia capitalista. Para maior desequilíbrio econômico, o motor de explosão e o elétrico lançam no desemprego milhares de braços. O proletariado começava a ser um fato alarmante. Engels e Carl Marx apontavam a solução comunista para a "questão social". Saint Simon, Proudhon, Fourier e outros preferiam o socialismo utópico. A luta de classes preparava-se para deixar na literatura o seu rastro de dor e sangue. O cristianismo histórico e racionalista curvava-se sobre as fontes do ceticismo. Harnach, Renan, Reinach e outros, sem negarem o fato cristão, desvirtuavam-no e procuravam explicá-lo através da fé puramente idealista.

Depois de 1850 os homens de letras constatavam que a Química, a Física, a Biologia, a Zoologia, a Botânica, para não falarmos da Matemática, que todas as ciências procuravam alicerçar-se em comprovadas certezas e que até os cultores da Arte se esforçavam por serem verídicos. Desta maneira, em todos os ramos do saber ia-se dizendo adeus à velhas teses, outrora admitidas sem discussão, mas agora arrumadas já como falsas.


O Realismo tinha sua força motriz no conjunto de doutrinas conhecidas tradicionalmente como Racionalismo, que é a corrente central do pensamento liberal e que se ocupa em procurar, estabelecer e propor caminhos para alcançar determinados fins. Esta escola artística surge no cenário em reação às excentricidades românticas, como: a fugacidade na idealização da paixão amorosa; a visão de mundo, como, método que descreve um consistente (em um grau variável) e integral sentido de existência. A passagem do Romantismo para o Realismo, corresponde uma mudança do belo e ideal para o real e objetivo.

O Realismo, na pintura, manteve-se dentro dos preconceitos acadêmicos, no que diz respeito à exatidão do desenho e ao perfeito acabamento do quadro. Os pintores realistas executavam, no exterior, breves esboços e apontamentos que trabalhavam, depois, de forma cuidada, nos ateliers. Os quadros realistas resultavam num instantâneo da realidade, como uma fotografia nítida, concreta e sólida.

A pintura realista começou por manifestar-se no tratamento da paisagem, que se despiu da exaltação e personificação românticas para se ater, simplesmente, na reprodução desapaixonada e neutra, do que se oferece à vista do pintor. Passou, depois, aos temas do cotidiano e os tratou de forma simples e crua.
Os quadros realistas causaram o maior escândalo. Acusaram-nos de agradar à arte, quer pelos temas banais, por vezes ofensivos, quer pelas cores excessivamente mortas (de bom gosto), quer pela falta de elaboração e conceptualização das composições. No entanto, para os seus defensores, a representação da realidade ‘em sensível’ era a última palavra em audácia artística.

A Pintura contou com grandes nomes como: Camille Corot, o pintor francês impulsionador do paisagismo realista; J.F. Millet, pintor rupestre francês, conhecido como pré-realista, por suas representações de trabalhadores rurais, estudiosos dizem que as obras de Millet, em nenhum momento suscitam indiferença na tepidez de seus ocres e marrons, no lirismo de sua luz, na magnificencia e dignidade de suas figuras humanas, estudiosos dizem que Millet manifestava a integração do homem com a natureza; Honoré Daumier, retratava a vida dura dos camponeses e do operariado cotidiano, os temas do pintor e cartunista francês eram os artistas em desgraça e as crianças na miséria, algo que o mobilizava de maneira singular, no entanto, os quadros de Daumier não visavam à emoção gratuita e os personagens conservam o tempo todo a dignidade humana; Gustave Coubert, para este pintor francês a verdade da realidade é o que importa, os homens de seus quadros não expressam nenhuma emoção e mais parecem parte de uma paisagem do que personagens, Coubert foi um verdadeiro entusiasta da pintura morta; Édouard Manet, pintor multifacetado que abriu a sua arte em novos horizontes, os temas deixaram de ser impessoais ou alegóricos, passando a traduzir a vida da época, e em certos quadros, seguiam a estética naturalista de Zola, um consagrado escritor francês, considerado criador e representante mais expressivo da escola literária Naturalismo.

O Naturalismo foi um movimento que se iniciou com o Realismo, tendo varias características em comum e terminando na mesma época, com o surgimento do Parnasianismo, ou pré-modernismo. A diferença entre Realismo e Naturalismo consiste, entretanto, na temática: o Naturalismo trata de aspectos mais brutais e doentios, como assédio sexual, podendo ser considerado como o Realismo sem o seu caráter ideológico.

A literatura realista e naturalista surge na França com Flaubert (1821-1880) e Zola (1840-1902). Flaubert (1821-1880) é o primeiro escritor a pleitear para a prosa a preocupação científica com o intuito de captar a realidade em toda sua crueldade. Para ele a arte é impessoal e a fantasia deve ser exercida através da observação psicológica, enquanto os fatos humanos e a vida comum são documentados, tendo como fim a objetividade. O romancista realista fotografa minuciosamente os aspectos fisiológicos, patológicos e anatômicos, filtrando pela sensibilidade, o real.
A característica principal do movimento são os temas sociais (corrupção, pobreza) e um tratamento mais objetivo da realidade. A intenção desta escola literária era mostrar os piores aspectos da sociedade e deixá-los flagrantes. Os temas, opostos àqueles do Romantismo, não mais engrandeciam os valores sociais, mas os combatiam ferozmente. A ambientação dos romances se dá, preferencialmente, em locais miseráveis, localizados com precisão; os casamentos felizes são substituídos pelo adultério; os costumes são descritos minuciosamente com reprodução da linguagem coloquial e regional.

O romance, sob a tendência naturalista, manifesta preocupação social e focaliza personagens vivendo em extrema pobreza, descrevendo cenas chocantes. Como o movimento realista tem a função de crítica social, denuncia da exploração do homem pelo homem e sua brutalização, característica encontrada no romance de Aluísio de Azevedo, “O Mulato”.

A hereditariedade é vista como rigoroso determinismo, a que se submetem as personagens, subordinadas, também, ao meio que lhes moldam a ação, ficando entregues à sensualidade, à sucessão dos fatos e às circunstâncias ambientais. Além de deter toda a ação sob o senso do real, o escritor deve ser capaz de expressar tudo com clareza, demonstrando cientificamente como reagem os homens, quando vivem em sociedade.
Os narradores dos romances realistas/naturalistas têm como traço comum a onisciência que lhes permitem observar as cenas diretamente ou através de alguns protagonistas. Eles privilegiam a minucia descritiva, revelando as reações externas das personagens, abrindo espaço para os retratos literários e a descrição detalhada dos fatos banais numa linguagem precisa.

Outro tratamento típico, dos romances realistas/naturalistas é a caracterização psicológica das personagens que têm seus retratos compostos através da exposição dos pensamentos, hábitos e contradições, revelando a imprevisibilidade das ações e construção das personagens, retratadas no romance psicológico dos escritores realistas.
A desilusão com o fracasso dos ideais do liberalismo, a miseria das cidades, a crise da produção no campo, as más condições de vida da maioria da população, contrapostas aos privilegios da burguesia, explicam a substituição do idealismo romântico, desde o fim da primeira metade do século XIX, por uma visão mais objetiva e desiludida da realidade.

Uma das mais importantes obras do Realismo é a “Comédia Humana” de Honoré de Balzac, prolífico escritor francês, notável por suas agudas observações psicológicas. Balzac, foi o fundador do Realismo na literatura moderna. Esta magnum opus, “A Comédia Humana”, consiste de 95 romances, novelas e contos, que procuram retratar todos os níveis da sociedade francesa da época, em particular a florescente burguesia após a queda de Napoleão Bonaparte, em 1815.

“O Vermelho e o Negro” de Stendhal, “Carmen” de Prosper Merimée e “Almas Mortas” de Nikolay Gogol são obras literárias relevantes do movimento. Porém, a obra que marca o início do Realismo na literatura é “Madame Bovary” de Gustave Flaubert. Também merecem destaque as seguintes obras: “Os Irmãos Karamazov” de Fiódor Dostoiévski, “Anna Karenina” e “Guerra e Paz” de Leon Tolstói, “Oliver Twist” de Charles Dickens, “Os Maias” e “Primo Basílio” de Eça de Queiroz.

Numa conferência proferida no "Casino", o mestre da literatura portuguesa, Eça de Queirós, disse a respeito do Realismo: "É a negação da arte pela arte; é a proscrição do convencional, do enfático, do piegas. É a abolição da retórica considerada arte de promover a emoção, usando da inchação do período, da epilepsia da palavra, da congestação dos tropos. É a análise com o fito na verdade absoluta. Por outro lado, o Realismo é uma reação ao Romantismo: o Romantismo era a apoteose do sentimentalismo; o Realismo é a anatomia do caráter, é a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos - para condenar o que houver de mau na nossa sociedade". E sobre os preceitos a seguir na nova escola, acrescentou o mesmo romancista: "A norma agora são as narrativas a frio, deslizando como as imagens na superficie de um espelho, sem intromissões do narrador. O romance tem de nos transmitir a natureza em quadros exatíssimos, flagrantes, reais".
Estas frases do autor de “Os Maias” são elucidativas. Abaixo,encontram-se as principais características do Realismo:
1. Análise e síntese da objetividade, da realidade, da verdade, em oposição ao subjetivismo e idealismo românticos;
2. Indiferença do "eu" subjetivo e pensante diante da Natureza que deve ser reproduzida com exatidão, veracidade e abundância de pormenores, num retrato fidelíssimo da realidade;
3. Neutralidade do coração e do espírito diante do bem e do mal, do vício e da virtude, do belo e do feio;
4. Análise corajosa dos aspectos baixos da vida, sobretudo dos vícios e taras, não os ocultando e chamando-os pelo seu nome;
5. Relacionamento lógico entre as causas (biológicas e sociais) do comportamento das personagens do romance e a natureza (exterior e interior) desse comportamento;
6. Admissão na literatura por temas cosmopolitas em vez dos nacionais e tradicionais dos românticos;
7. Linguagem clara, objetiva ao descrever concepções; uso de expressão simples em tom de desafeto, de modo que as ideias, sentimentos e fatos transpareçam sem esforço e sem convencionalismos (o oposto ao tom declamatório dos românticos).

O início do Realismo, em Portugal, foi um pouco turbulento. Isso se deve ao fato de Castilho, escritor romântico português, ser o mentor de grande parte dos literatos nacionais e não estar disposto a transigir com novidades que achava perigosas e condenadas a um desaparecimento próximo. Por outro lado, a mocidade de Coimbra, que considerava ultrapassado o didatismo do poeta cego, desvencilhou-se das redes em que o grupo de Lisboa a queria prender, e seguiu o seu caminho, a golpes de polêmica acesa e nem sempre calma.

Os discípulos de Castilho atacaram o escritor português, Antero de Quental e os moços de Coimbrã, por instigarem a revolução intelectual. Como resposta, Antero publicou os opúsculos “Bom Senso e Bom Gosto, carta ao Exmo. Sr. Antônio Feliciano de Castilho”, e “A Dignidade das Letras e as Literaturas Oficiais”. Esta questão entre os irrequietos seguidores de Quental ficou conhecida na história pelo nome de "Questão Coimbrã".

No Brasil do Segundo reinado (de 1840 a 1889), impera o conhecido "parlamentarismo às avessas", quando o Imperador D. Pedro II escolhe o senador ou o deputado para o cargo de primeiro-ministro, com a complacencia do Partido Liberal e do Partido Conservador, que se revezavam no poder, sempre seguindo os interesses da oligarquia agraria. No campo da economia, o Brasil, na metade do século XIX, ainda mantinha uma estrutura baseada no latifundio, na monocultura de exportação com mão-de-obra escrava voltada para o mercado cafeeiro.

Por volta da década de 1870, no entanto, as oligarquias agrarias, que até então "davam as cartas" na economia e na política do Brasil, sofreram pressões internacionais para o desenvolvimento do capitalismo industrial, no sentido de um processo de modernização que se dava lentamente. Inicialmente, pela proibição do tráfico negreiro cresce a mão-de-obra imigrante, desenvolve-se a industria cafeeira no interior dos estados de Minas Gerais e de São Paulo e, ainda, ferrovias foram construídas. Ao longo dos trilhos, concentram-se as fábricas que dão origem à classe media urbana, que se insatisfaz com a falta de representatividade política.

O Realismo, no Brasil, manifestou-se principalmente na prosa, em sua estética literaria. Os romances realistas tornaram-se instrumentos de crítica ao comportamento burguês e às instituições sociais. O Realismo e o Naturalismo estabelecem-se com o aparecimento, em 1881, da obra realista “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, e da naturalista “O Mulato”, de Aluísio de Azevedo, influenciados pelo escritor português Eça de Queirós, com as obras. O movimento se estende até o início do século XX, quando Graça Aranha publica “Canaã”, fazendo surgir uma nova estética: o Pré-Modernismo.

Além de “Memorias Póstumas de Brás Cubas”, Machado de Assis contribuiu para a literatura brasileira com outras grandes obras, como: “Quincas Borba” e “Dom Casmurro”. Estas três obras envolvem adultério e apresentam inúmeros temas sob uma ótica crítica e irônica, características marcantes do autor. “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e “Dom Casmurro” destacam-se por serem narradas em primeira pessoa, pelo autor/personagem da trama, característica incomum no romance realista. “Esaú e Jacó” e “Memorial de Aires” figuram na fase filosófica e madura do autor, sendo, também, obras realistas.Também, destacavam-se os autores de “O Ateneu”, publicado pela primeira vez em 1888, por Raul Pompéia e foi a única obra impressionista na literatura brasileira e Visconde de Taunay, na literatura regionalista, com sua obra-prima, “Inocência”.

Alfredo Bosi assim descreve o movimento no Brasil: "O Realismo se tingirá de naturalismo no romance e no conto, sempre que fizer personagens e enredos submeterem-se ao destino cego das "leis naturais" que a ciência da época julgava ter codificado; ou se dirá parnasiano, na poesia, à medida que se esgotar no lavor do verso tecnicamente perfeito”. Ainda, segundo Bosi, o Realismo vindo da Europa com tendencias ao universal, acaba aqui modificado por nossas tradições e, sobretudo, pela intensificação das contradições da sociedade, reforçadas pelos movimentos republicanos e abolicionistas, intensificadores do descompasso do sistema social.

Neste contexto, o conhecimento sobre o ser humano amplia-se com o avanço da Ciencia e os estudos passam a ser feitos sob a ótica da Psicologia e da Sociologia. A Teoria da Evolução das Espécies, de Darwin, oferece novas perspectivas com base científica, concorrendo para o fortalecimento do Realismo.

E foi à partir das concepções inovadoras do naturalista, Émile Zola (1840 – 1902), que se propuseram a exploração da realidade nos textos artísticos e surgiram no cenario mundial varios teatrólogos que, buscavam preencher os vazios deixados por Aristóteles em sua Poética. Desta forma, nasceram varias teses teatrais que se propunham a criticar, analisar a sociedade pelo viés dramático e expor para o público não apenas uma peça de teatro, mas uma obra psicológica, filosófica, que buscava elaborar um conhecimento científico a respeito da realidade.


Foi no começo do século XX que o diretor começou a ser visto como o coordenador geral do espetáculo, cabendo a ele a supervisão dos atores, dos elementos cênicos, a escolha da peça a ser encenada e seu público alvo. A função do diretor é manter o equilíbrio de todos os elementos cênicos, preocupando-se com o ritmo do espetáculo, esclarecendo suas concepções a respeito da peça teatral e a forma de se abordar o tema.

Um dos mais aclamados artistas dessa época é o polêmico Marquês de Sade, que, com uma temática picante e extremamente ousada, rebelou-se contra os paradigmas sociais da burguesia francesa, tornando-se um serio problema para a corte do imperador, que mandou prendê-lo num sanatorio para não mais propagar suas magistrais e insanas obras. O sueco August Strindberg (1849 – 1912) foi autor dos primeiros dramas desse novo gênero, entre eles: “Senhorita Júlia” e “O Pai”

O norueguês Henrik Ibsen (1828 – 1906), inspirado na filosofia naturalista foi quem propôs pela primeira vez que certos traços realistas fossem inseridos nos teatro da época. Nicolai Gógol propôs o realismo nas concepções teatrais russas, sendo que essa prerrogativa foi aceita por Tchekhov trinta anos após a morte de Gógol.
Foi nos Estados Unidos, porém, que o Realismo, no teatro, viveu seus momentos áureos, com dramaturgos geniais, como Tennessee Williams e Arthur Miller, que condicionavam a cultura americana e o cotidiano de sua gente ao Realismo crítico.

No Teatro Realista o herói romântico, o índio, os deuses são trocados por pessoas comuns do cotidiano. Os problemas sociais transformam-se em temas para os dramaturgos realistas. A linguagem romântica sofisticada é deixada de lado e entra em cena as palavras comuns do povo. O primeiro representante desta fase é o dramaturgo francês Alexandre Dumas, autor de “A Dama das Camélias”. Outras importantes peças de teatro do realismo, são: “Ralé” e “Os Pequenos Burgueses” de Gorki; “Os Tecelões” de Gerhart Hauptmann e “Casa de Bonecas” do norueguês Henrik Ibsen.

A peça “A Dama das Camélias” (1852), de Alexandre Dumas Filho, conta a historia de uma cortesã que é regenerada pelo amor, dando ao público a constatação de um mundo real, observado, sem fantasiosas e lúdicas vivencias, e sim, do dia a dia que explica o comportamento das personagens apresentadas. A concepção realista de que o homem é fruto do meio começou a ser explorada no teatro francês e logo ganhou o mundo.

No fim do século XIX, surgiu a concepção do ator personalista, isso é, o ator que representa a força dramática do espetáculo teatral. Assim, as obras teatrais começaram a correr o mundo, tendo como grande objeto de marketing a fama e a credulidade de grandes estrelas, como o mito Sarah Bernhardt na França e o ator romântico João Caetano (1808 – 1863) no Brasil.

O teatro realista brasileiro foi intensamente influenciado pelo francês, o que acarretou em duas vindas de Sarah Bernhardt ao país. O teatro realista francês era composto por um grupo seleto de dramaturgos que buscavam descrever a vida nas ruas de Paris e buscar soluções para os problemas existentes, como a prostituição, tema abordado em “Les Filles de Marbre” (As Mulheres de Mármore), de Théodore Barrière e Lambert Thiboust, peça que busca racionalizar a vida social do país, além de sugerir um caminho considerado ideal para o combate do lenocinio.
Desses mesmos autores, as famosas peças “A Herança do Sr. Plumet” e “Os Hipócritas” estrearam no Rio de Janeiro em 1855, causando grande furor por parte do público, com o texto traduzido para o português. Nessa mesma década, passaram pelos teatros do Rio de Janeiro ainda as peças de: Feuillet, como “Dalila” e de Augier, como “As Leoas Pobres”. Ziembinski, que muito contribuiu para o teatro brasileiro, ficou famoso por adequar o realismo em seus espetáculos expressionistas.
Sobre Ziembinski, Décio de Almeida Prado elucidou, após ter assistido a peça Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, montada pelo famoso diretor: “As cenas desenroladas no plano da alucinação são jogadas num estilo francamente expressionista, que viola deliberadamente a realidade, para conseguir maior efeito plástico e dramático, em contraste com as cenas de memoria, já mais próximas do quotidiano, e, ainda mais, com as cenas no plano da realidade, que chegam até o naturalismo perfeito...”.

No Brasil as peças retratavam a realidade do povo brasileiro, Machado de Assis escreve “Quase Ministro” e José de Alencar destaca-se com “O Demônio Familiar”. “Luxo e Vaidade” de Joaquim Manuel de Macedo também merece destaque. Outros escritores e dramaturgos que podemos destacar, são: Artur de Azevedo, Quintino Bocaiúva e França Júnior.

O autor realista, Machado de Assis, que, aos vinte anos de idade, escrevia num jornal de grande circulação do Rio de Janeiro lançou “Idéias Sobre Teatro”, onde criticava abertamente o Romantismo e referia-se ao Realismo com grande admiração, defendendo um encontro maior da massa com o teatro, argumentando que o teatro não deveria ser somente um objeto de entretenimento e sim um local para ampla discussão a respeito das questões sociais do país: “O teatro é para o povo o que o Coro era para o antigo teatro grego, uma iniciativa de moral e civilização”, elucidou o escritor.

A obra de Pinheiro Guimarães “História de uma Moça Rica” resgatou a razão dentro do processo naturalista, endossando que o homem é fruto de seu meio. O detalhe é fundamental nas concepções realistas, além da visão do homem como um ser comum, ou seja, parte da natureza. A crítica é uma marca das obras realistas, que abordam os temas de maneira sempre objetiva, buscando ao máximo elucidar o receptor.

O Realismo no Brasil, porém, seria desnudado no auge do modernismo, que trouxe uma visão mais democratizada de sua gente, quebrando com os padrões estéticos europeus característicos no Realismo.