texto

textos

sábado, 20 de agosto de 2011

Meus oito anos



A ideia era ir ao evento de folclore, entretanto não era na casa de Casimiro de Abreu, era no Museu de Casimiro de Abreu, tudo bem é sempre um prazer ir à casa onde viveu Casimiro de Abreu, nosso mestre literário do Romantismo, escola do séc. XVIII que influenciou uma gama de artistas a mergulhar na nostalgia romântica, no egoísmo do amor platônico, no subjetivismo exacerbado, na alienação social, na dor existencialista, sabe que me identifico muito com isto!?! Emociono-me toda vez que vou àquele lugar, a paz emanada da natureza circundante e desperta na minha alma todo o sentimentalismo de Casimiro de Abreu:

‘ Meus oito anos’
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
— Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é — lago sereno,
O céu — um manto azulado,
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d’amor!
Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingenuo folgar!
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delicias
De minha mãe as caricias
E beijos de minhã irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
— Pés descalços, braços nus
— Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
…………………………..
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
— Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
A sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!