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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
O Mar Morto de Jorge Amado
"Agora eu quero contar as histórias da beira do cais da Bahia. Os velhos
marinheiros que remendam velas, os mestres de saveiros, os pretos tatuados, os
malandros, sabem essas histórias e essas canções. Eu as ouvi nas noites de lua no
cais do mercado, nas feiras, nos pequenos portos do Recôncavo, junto aos enormes
navios suecos nas pontes de Ilhéus. O povo de Iemanjá tem muito que contar."
"A vela anda ao redor das águas. Águas plúmbeas para Lívia, águas de um
mar morto. Águas sem ondas, águas sem vida."
Um livro triste e emocionante, escrito em 1936, quando o autor tinha apenas 24 anos, Mar morto conta as histórias da beira do cais da Bahia, como diz Jorge Amado na frase que abre o livro. E a frase é uma verdadeira carta de intenções. Nenhum outro livro sintetizou tão bem o mundo pulsante do cais de Salvador, com a rica mitologia que gira em torno de Iemanjá, a rainha do mar.
'Mar Morto é uma história do amor. Desse sentimento mais doce e mais trágico que o ser humano experimenta, desde sua origem, e que numa teia paradoxal o enreda,tornando-o pleno e vazio ao mesmo tempo, dando-lhe vida através da morte, se a união de dois amantes é conseqüência da paixão, a paixão invoca necessariamente a morte, o desejo de morte ou de suicídio; o que designa a paixão é um halo de morte. Assim, nas páginas de Mar Morto, mergulhamos nesse universo onde seres buscam com ânsia sua continuidade possível no ser amado, numa tentativa de submergir no outro, numa busca feroz de completude, que só se torna possível pela fusão desses dois seres descontínuos. Por isso, Guma, encontra sua plenitude na morte, quando possui e é possuído pela mãe-mulher Janaína, por isso, também, o sonho maior de todo pescador é morrer no mar. Há de haver, portanto, um olhar específico na construção das personagens femininas, que nada mais são do que a encarnação dessa plenitude tão procurada em toda a narrativa: As mulheres são deusas e as deusas são mulheres, há mães que são prostitutas e prostitutas que são santas, numa fusão maravilhosa da matéria com o espírito, do profano com o sagrado. Temos assim em Mar Morto o amor dos homens entre si, o amor entre um homem e uma mulher e o amor entre os homens e o mar - que vem a ser a grande metáfora do amor - por sua profundidade, seus mistérios e seus encantos que a todos chama e seduz.
Personagens como o jovem mestre de saveiro, Guma, parecem prisioneiros de um destino traçado há muitas gerações: O dos homens que saem para o mar e que um dia serão levados por Iemanjá, deixando mulher e filhos a esperar, resignados.
Mas, nesse mundo aparentemente parado no tempo há forças transformadoras em gestação. O médico Rodrigo e a professora Dulce, não por acaso dois forasteiros, procuram despertar a consciência da gente do cais contra o marasmo e a opressão.
É esse contraste entre o tempo do mito e o da história que move Mar Morto, envolvendo-nos desde a primeira página na prosa calorosa de Jorge Amado. '
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